Prejuízos Bem Reais
O Brasil segue batendo recordes quando o assunto é compras on line. Em dezembro do ano passado, nada menos que 12,2 milhões de internautas residenciais acessaram algum site de comércio eletrônico.
O que boa parte desses compradores tem em comum, além da escolha feita pela telinha do computador com apenas um clique do mouse?
Falta de informação, impulsividade, pressa e insatisfação com o que compraram. Isso acontece porque para milhares de pessoas parece fácil e muito mais cômodo comprar on line, mas se o consumidor não estiver atento a uma série de detalhes a transação pode dar muita dor de cabeça.
E algumas dessas chateações são em grande parte por culpa dos próprios compradores. Pesquisa feita com cerca de 10 mil consumidores de vários estados brasileiros pelo maior portal de reclamações da América Latina, o Reclame Aqui, indicou que 38% das compras na web são originárias de sites comparadores de preço, ou seja, uma em cada três pessoas se preocupa mais com o preço e menos de quem está comprando. “O problema é que esses sites comparam o preço e não a idoneidade da empresa indicada, por isso tanta gente cai em golpes”, afirma Maurício Vargas, empresário da área da tecnologia da informação e criador do site.
Para ele os consumidores ainda são ingênuos e levados pela facilidade de se comprar. Acreditam demais na fotografia e em propagandas enganosas. “Existe uma variedade de produtos eletrônicos que podem ser confundidos facilmente. Escuto muitos relatos de pessoas que compraram, dando número de cartão de crédito sem saber ainda o que estavam comprando”, diz Vargas.
Em várias situações complicadas o consumidor fica até sem saber a quem reclamar, principalmente quando se compra em sites de leilão de mercadorias. O produtor editorial Flávio Reis sabia que estava se arriscando ao adquirir um videocassete usado por um preço muito mais baixo do que o normal no Mercado Livre – maior comunidade de compra e venda on line do país. E o pior, o vendedor não tinha nenhuma pontuação no sistema de qualificação do site. Reis ignorou os riscos. Resultado: o videocassete nunca chegou. “Depois que paguei, o vendedor não me atendeu mais e descobri que depositei o dinheiro numa conta laranja. Fiquei com preguiça da burocracia e não corri atrás da recuperação”, confessa.
Sobre este caso, a equipe de comunicação com o usuário do Mercado Livre informou que o comprador não enviou o comprovante do pagamento em tempo hábil, mas que, mesmo assim o vendedor em questão foi inabilitado permanentemente4 da comunidade. A coordenadora do Procon BH, Stael Riani, pondera que reaver um prejuízo de pessoa física é muito mais complicado do que de pessoa jurídica, pela dificuldade de localização do vendedor. “Processos assim cabem à polícia investigar. É por isso que comprar em sites de leilão é tão arriscado”.
Outro perigo é a falta de atenção às particularidades pequenas, mas importantes no processo da compra. Quando a universitária Ana Flávia Coelho adquiriu pilhas recarregáveis na Americanas.com, esperava ver a especificação da voltagem na tela, mas esta não existia. Comprou mesmo sem saber e o produto chegou impróprio para o uso (220V). Outro erro de Ana Flávia foi esquecer de testá-las antes dos sete dias úteis em que o consumidor tem direito de desistir da compra, segundo o código de defesa do consumidor. “Depois de muitos e-mails e telefonemas, me informaram que eu não tinha mais direito de troca do produto, só com o fornecedor. Enviei, então, para São Paulo e tive que pagar o frete e esperar mais duas semanas.” Sobre o assunto, a Americanas.com informou à reportagem da Encontro que como a reclamação foi feita fora do prazo de troca, a cliente foi direcionada para a assistência técnica.
Este e outros problemas, somados, têm reflexos expressivos no bolso dos consumidores. O prejuízo chega a 500 milhões de reais. Foi o que outra pesquisa do Reclame Aqui apontou em 2007, só em relação aos seus quase 200 mil clientes cadastrados. Foram 15 mil reclamações: destas, 11 mil por produtos trocados ou por atraso e quatro mil simplesmente não receberam nenhuma mercadoria.
Quando o problema é exclusivamente das empresas, geralmente passa pela logística de entrega e a separação dos produtos. “O volume de pedidos é muito grande e a maioria ainda não está preparada para isso”, revela Vargas. O jornalista Júlio César Anunciação sentiu o gostinho amargo deste despreparo depois que comprou um som para seu carro e recebeu em casa um DVD que custava quase o dobro do valor que pretendia gastar. “Tive que me deslocar para os correios e esperar pelo envio do produto correto”, conta.
Mesmo com tantos casos negativos, a advogada especialista em direito digital Patrícia Peck Pinheiro observa um certo amadurecimento no mercado virtual. “As empresas já estão elaborando um termo de uso e política de compra e venda on line, publicando isso e criando uma política de privacidade dos clientes com seus dados protegidos”, avalia. O que é uma boa notícia para os consumidores on line. Até porque, na mesma pesquisa do Reclame Aqui – citada no início da reportagem – 83% dos consumidores disseram que comprariam novamente pela Internet, desta vez com mais informações e menos impulsividade.
Os recordes
- O número de internautas residenciais que visitam sites de compras bateu recorde no último dezembro.
- Foram 12,2 milhões de pessoas, 2,5% a mais em relação. a novembro de 2007
- 57% dos brasileiros com ingresso doméstico à web acessaram algum site de comércio eletrônico no final do ano.
- Continuamos a ser o país número 1 do mundo em tempo médio de navegação residencial por internauta, com 21h39min por mês.
Fontes: Pesquisa de hábitos e tendências de consumo realizada pela e-bit com o apoio da Câmara Brasileira de Comercio Eletrônico; Ibope/ Net Ratings
As mais reclamadas do e-commerce em 2007
Posição Reclamada Reclamações Respondidas Não Respondidas
1° Mercado Livre 2933 2778 155
2° Submarino 1482 1191 291
3° Americanas.com 1074 960 114
4° 1stline 629 335 294
5° Shoptime.com 626 470 156
Fonte: Portal www.reclameaqui.com.br
Curiosidades do e-commerce em 2007
- O Brasil teve 9,5 milhões de compradores que adquiriram produtos on line pelo menos uma vez.
- Venderam-se R$7,5 bilhões sem contar passagens aéreas
- Mais de R$1 bilhão foi movimentado só no mês do Natal. Crescimento de 45% deste mercado
- 37% das compras totais são provenientes de sites comparadores de preço
- O grupo B2W (ShopTime, Submarino e Americanas.com)
detém 60% do mercado virtual
- Os estados brasileiros que mais compram são, por ordem, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul
Fonte: e-bit – empresa de consultoria para comércio eletrônico
Os 10 passos para fazer uma boa compra via Internet, de acordo com a advogada especialista em direito digital Patrícia Peck Pinheiro
- Pesquise sobre a loja antes de comprar na Internet. Alguns sites informam as empresas de e-commerce que são alvo de reclamação.
- Verifique se no site há endereço e telefone de contato da loja, não apenas e-mail, pois se houver um problema só o e-mail não é suficiente.
- Prefira comprar em lojas conhecidas e que tenham mecanismos de segurança, e não busque apenas o menor preço, pois há muitas lojas fantasmas na Internet.
- Teste o atendimento da loja enviando um e-mail para tirar dúvidas antes de fazer a compra (se não responderem em tempo ágil, imagine se fosse uma reclamação).
- Salve as telas de navegação no site da compra, desde a que mostra o produto e o preço até a conclusão do pedido e, guarde por 90 dias para o caso de precisar reclamar de algo ou vir cobrança indevida no cartão.
- Compare preços e leve a oferta mais barata para a loja de sua preferência para ver se eles cobrem.
- Não passe dados de cartão de crédito ou conta bancária por e-mail (nem para o SAC da loja). O site deve informar como é feita a armazenagem de dados eletrônicos do consumidor.
- Leia atentamente as políticas on line publicadas no site sobre privacidade, segurança, prazo de entrega, troca de produto ou cancelamento de compra (se não houver tais políticas nem compre).
- Não deixe para comprar na última hora, pois é comum atrasos de entrega nas vésperas de Natal ou outras datas importantes.
- O site deve apresentar características detalhadas sobre o produto desejado.
Revista Encontro
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Publicado: Revista Encontro